Na Grécia Clássica, nos tempos de Platão, o ensino tinha uma característica generalista: formação integral e abrangente do estudante, no contexto do conhecimento daquele tempo. Ao longo dos séculos, essa foi a abordagem do ensino – abrangente e com forte base nas ciências humanas (especialmente a filosofia), durante o tempo em que as áreas de conhecimento eram em menor número e mais inclusivas, reunindo conhecimento de diferentes fontes em torno de problemas, observações ou desafios de entender a natureza e o papel do ser humano no mundo.

Mesmo após o surgimento das universidades (século IX), na Europa Ocidental, o foco do ensino e da formação acadêmica, acompanhando a demanda da sociedade, era por uma formação generalista, em torno de um pequeno conjunto de cursos (como direito, medicina e filosofia). Somente a partir das Revoluções Industriais (final do século XVIII e século XIX), com mudança nas demandas da sociedade e do emergente mercado de trabalho profissional, a especialização começa a ocupar um espaço relevante. No século XX, a especialização na formação acadêmica atinge seu ápice, tanto no ensino como na pesquisa e na própria organização da universidade.

Por sua vez, um conjunto de fatores pressiona fortemente por mudanças neste sentido. Essas mudanças envolvem:

Extensas mudanças na sociedade, gerando novas demandas, novas carreiras profissionais, com formação mais abrangente e flexível, fim do emprego único, perspectivas de uma vida profissional com mudanças de carreira frequentes;
• Novo perfil dos estudantes, gerações digitais, globais, demandas por novos formatos de ensino-aprendizagem;
Complexidade dos problemas – demandas por conhecimentos diversos, na busca das soluções para os desafios das organizações e da sociedade;
• Importância da capacidade de aprender a aprender, mais autonomia na aquisição de conhecimentos e na formação, necessidade crescente de educação continuada por toda a vida, visando manter a capacidade de renovação e adaptação às constantes mudanças.

Esse cenário, de fim do emprego tradicional, que demanda um novo tipo de formação, pressiona para novos cursos, estimula a formação integral, mais generalista, e gera a necessidade de novas estruturas nas universidades, em todas as suas dimensões. À soma desses movimentos, a emergência das redes e da interdisciplinaridade, a formação generalista e a educação continuada ao longo da vida geram enormes desafios para as universidades, mas também oferecem grandes oportunidades, sendo fator de reflexão e mudança em muitas instituições, com vistas ao futuro da educação superior.

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