Iniciada como a luta feminista pela igualdade entre os sexos, a progressiva emancipação da mulher a levou a conquistar espaços cada vez maiores na sociedade. Nesse processo, aliaram-se fatores econômicos, sociais e culturais. No mercado de trabalho, a expansão da presença da mulher ganhou impulso quando necessidades econômicas a levaram a contribuir no orçamento familiar e se intensificou com o aumento do seu nível de escolaridade e a redução das barreiras culturais. Como consequência, ela ampliou sua presença também nos diversos níveis de gestão empresarial em várias partes do mundo, o que não foi diferente no Brasil.

De modo geral, a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro vem crescendo consistentemente, em especial a partir da década de de 1990, enquanto a dos homens se manteve no mesmo patamar.

Sobre o crescimento profissional, há pelo menos duas ideias preconcebidas. A primeira, e mais importante, está traduzida na crença de que para atingir o topo a mulher tem de se comportar “como homem”. A segunda é que a sexualidade da mulher contribui para que ela atinja o sucesso.

É interessante observar que a percepção que ela tem sobre esse primeiro fenômeno não se mostra muito diferente da comumente observada no homem. Relatos de gestoras, constantes no livro Executivos: sucesso e (in)felicidade, mostram declarações do tipo: (para uma executiva) “Você não pensa como mulher, não tem instabilidade emocional, é bem resolvida e decidida, não traz problema pessoal para o trabalho.” Por outro lado, boa parte das executivas entrevistadas para o livro enfatizou lamentar que essa “masculinização” do comportamento da mulher seja responsável pela perda do lado “diferente”, “feminino”, “que poderia fazer a diferença” no ambiente de trabalho. Tais opiniões levam a um ponto de reflexão que traz à baila uma discussão fundamental: ao mesmo tempo em que tanto se fala da importância crescente do “estilo feminino de gestão” (mais intuitivo, mais emocional), os depoimentos de homens e mulheres no seio corporativo levam a concluir que para alcançar o topo é necessário adotar o “estilo masculino de gestão” (mais assertivo, mais agressivo).

Na contramão desses preconceitos, estaria, por exemplo, o aumento do nível de escolaridade da mulher nos últimos anos. No Brasil, nas áreas de ensino superior de saúde, humanas, artes e ciências sociais, as mulheres já são mais de 57% dos estudantes matriculados em cursos de graduação, segundo dados do Censo da Educação Superior de 2016 (INEP). A despeito desses números, alguns levantamentos demonstram como é desfavorável para o sexo feminino a correlação entre escolaridade e renda.

Enquanto isso, antigos preconceitos permanecem, muitas vezes reforçados por aspectos culturais do país em que a mulher está inserida. No Brasil, os valores da família produzem forte influência na modelagem e no significado do sucesso da carreira, para ambos os sexos. No seio familiar nasce o conceito de (in)sucesso e o de (in)felicidade. Do homem, é cobrada uma posição profissional de destaque, que torne mais fácil para ele construir uma família que atenda ao padrão vigente. Assim, para que o gestor possa se dedicar quase integralmente aos desafios profissionais, sua mulher o acompanha, cuida do bem-estar da família. O mesmo não ocorre com a gestora casada, já que da mulher se cobra socialmente outro papel: o de mãe. Aquelas que optam por associar a maternidade à vida profissional se deparam com os dilemas e as culpas típicas desse quadro. Nessa fase, algumas preferem desacelerar seu investimento na carreira, buscando o reequilíbrio com o investimento na família. Não existe resposta única, não existe resposta certa. Porém, qualquer que seja a opção, ela deve ser feita de forma consciente, pois haverá ganhos e perdas.

Nas diversas sociedades, a expectativa do papel a ser desempenhado pelo homem ou pela mulher varia de acordo com cada cultura. Na mais masculina, os papéis esperados de cada sexo são bem distintos entre si: os homens têm suas ações mais dirigidas por valores como competição, ambição e autoconfiança e às mulheres cabe cuidar mais das relações, ser solidárias, cooperar e humanizar o ambiente onde estão.

Em países escandinavos, de cultura mais feminina, a mulher já avançou mais em relação à igualdade e os homens já tendem a considerar que é também sua função cuidar do dia a dia dos filhos. No Brasil, esses avanços são bem menores, não havendo tanta divisão de responsabilidades em relação aos filhos e à casa. Tais afazeres ainda são função da mulher.

Se a expectativa da sociedade – e a da própria mulher – é que a mãe, independentemente das obrigações profissionais, exerça a maternidade 24 horas por dia, sobram críticas às que não o fazem. E elas não vêm só do mundo masculino. A crítica à mãe que “abandona” os filhos por causa do trabalho é fertilizada por muitas das mulheres que não têm uma vida profissional. Também não é raro que uma avó fale do “abandono” de seus netos pela filha ou nora, mesmo que estas se desdobrem para conciliar o seu papel de mãe com a vida profissional intensa.

Sucesso a todos!

Saulo Novaes

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