Quase todo mundo que contempla uma mudança de carreira se sente profundamente ansioso frente a essa possibilidade. Ainda que existam alguns afortunados que contam com a coragem necessária para tal empreitada, a maioria das pessoas é assombrada por temores que impedem de viajar por novas rotas profissionais. Há o receio de que o novo trabalho não ofereça a satisfação esperada, ou o sucesso almejado; há também a insegurança devido à idade avançada para a desejada mudança, bem como ao risco financeiro que ela engendra. E aí, o medo do fracasso chega a ser quase uma aflição universal.

No entanto, mesmo sabendo que muitos compartilham tais temores e que diversas pessoas são igualmente perdidas, repletas de dúvidas sob uma carapaça externa de autoconfiança, ainda precisamos compreender por que a ansiedade quanto a mudanças de carreira assombra uma parte tão significativa das pessoas.

Uma pretensa resposta tem a ver com a atitude peculiar dos humanos em relação ao risco. Na década de 70, os psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman iniciaram uma série de experimentos para pesquisar como as pessoas avaliam perdas e ganhos potenciais e descobriram que os indivíduos odeiam perder duas vezes mais do que adoram ganhar, seja em uma mesa de bilhar, seja diante de uma mudança de carreira. Para Tversky, “as pessoas são muito mais sensíveis aos estímulos negativos do que aos positivos […] Existem algumas coisas que nos fazem sentir melhor, mas o número de outras que nos deixam piores é incontável”. Biólogos evolucionistas tentaram explicar por que os indivíduos têm esse viés negativo, que faz com que as pessoas se voltem muito mais para as desvantagens do que para os benefícios. Os teóricos especulam que pode ser pelo fato de os primeiros humanos terem desenvolvido uma alta sensibilidade ao perigo como forma de sobrevivência diante da aridez dos locais onde viviam: por isso, os homens são produtos do terror primitivo a que seus ancestrais estavam sujeitos.

Logo, diante da mudança de carreira, os indivíduos são psicologicamente predispostos a maximizar tudo o que pode dar errado. De maneira igual, ao se pensar em um novo emprego e as expectativas advindas dele, a tendência é destacar as deficiências subjetivas mais do que as potencialidades. O resultado é que as pessoas tendem a ser extremamente cautelosas e a continuar em empregos que – ao menos em termos de realização – já passaram há muito tempo de seus prazos de validade.

A questão que fica é como os indivíduos devem se livrar de seus temores, superar sua aversão ao risco e descobrir a coragem necessária para a tão sonhada mudança profissional. Afinal, como diria Virginia Woolf, “sem autoconfiança somos como bebês no berço”.

Sucesso a todos!

Saulo Novaes

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