Atualmente, a economia sob demanda está alterando de maneira fundamental a relação entre o trabalho e o tecido social no qual o primeiro está inserido. Mais empregadores estão usando a “nuvem humana” para que as coisas sejam feitas. As atividades profissionais são separadas em atribuições e projetos distintos; em seguida, elas são lançadas em uma nuvem virtual de potenciais trabalhadores, localizados em qualquer lugar do mundo. Essa é a nova economia sob demanda, em que os prestadores de serviços não são mais empregados no sentido tradicional, mas são trabalhadores demasiado independentes, que realizam tarefas específicas. E aqui vale mencionar Arun Sundararajan, professor da Universidade de Nova York, quando este diz que chegará um tempo em que parte da força de trabalho terá uma carteira de coisas para gerar sua renda: motorista da Uber, locador da Airbnb e proprietário de um e-commerce, tudo concentrado em um único ser.
As vantagens da economia digital para as empresas e, em particular, para as startups em franco crescimento são claras. Uma vez que as plataformas de nuvem humana classificam os trabalhadores como autônomos, elas estão livres da obrigação de pagar salários mínimos, tributos e benefícios sociais, pelo menos momentaneamente. É possível trabalhar, desta maneira, com quem quiser, quando quiser e como quiser, isentando-se dificuldades e normas laborais, por exemplo.
Para as pessoas que estão na nuvem, as principais vantagens residem na liberdade e na mobilidade incomparável que desfrutam por fazerem parte de uma rede virtual global. Alguns trabalhadores autônomos veem isso como a combinação ideal entre muita liberdade, menos estresse e maior satisfação no trabalho. Embora a nuvem humana ainda esteja em estágio embrionário, já há bastante evidência indicando que ela implica uma terceirização internacional silenciosa (as plataformas de nuvem humana não estão listadas nem precisam divulgar seus dados, ainda).
Perguntas: será que esse é o começo de uma revolução do novo trabalho flexível que irá empoderar qualquer indivíduo que tenha uma conexão de internet e que irá eliminar a escassez de competências? Será o desencadear de uma inexorável corrida para o fundo em um mundo de fábricas virtuais não regulamentadas? Se o resultado for este último, será que isso criaria uma grande fonte de agitação social e instabilidade política? Por fim, será que o desenvolvimento da nuvem humana irá apenas acelerar a automação dos postos de trabalho humano?
O desafio a ser enfrentado trará novas formas de contratos sociais e de empregos, adequados à mudança da força de trabalho e à natureza evolutiva do trabalho. É preciso limitar as desvantagens da nuvem humana em termos de possível exploração, enquanto ela não estiver cerceando o crescimento do mercado de trabalho, nem impedindo as pessoas de trabalhar da forma que desejarem. Do contrário, a quarta revolução industrial poderá conduzir os trabalhadores para o lado mais nefasto do futuro laboral: aumentos dos níveis de fragmentação, isolamento e exclusão em toda a sociedade. Dito assim, é preciso que haja reações reguladoras que reafirmem o poder das políticas públicas e institucionais promotoras das relações de trabalho, que causam tensão às forças adaptativas de um sistema complexo.
Um abraço a todos.
Saulo Novaes