A profunda escassez, as grandes alterações demográficas, as rápidas mudanças tecnológicas, a globalização acelerada e, agora, a pandemia do novo coronavírus estão criando o ambiente organizacional mais complexo desde a Revolução Industrial. Assim, velhos modelos de inovação estão se tornando obsoletos. Pessoas e instituições, acredita-se, não estão preparadas para responder de forma criativa e eficaz à complexidade crescente.
A engrenagem da inovação praticada por muitas organizações se tornou demasiado rígida, insular e inflada para se manter eficaz. Para além: consome grande quantidade de recursos, é extravagante e, muitas vezes, gera resultados irrelevantes. Solução: é preciso construir uma nova engrenagem de inovação, mais rápida, barata e melhor. Para isso, as organizações e pessoas devem encontrar novas fontes de inspiração. Os hindus são um caso a ser observado.
Cientes de sua escassez, os indianos praticam quase que cotidianamente a Jugaad – palavra coloquial hindu que pode ser traduzida por “um conserto inovador”. Jugaad é, de forma simples, uma maneira única de pensar e agir em resposta a desafios. Trata-se da corajosa arte de identificar oportunidades nas circunstâncias mais adversas, a partir da engenhosidade humana. Ou seja, significa fazer mais com menos.
E para que a filosofia da Jugaad possa ser adaptada às organizações e às pessoas, é preciso seguir seis princípios norteadores:
1) Busque oportunidades na adversidade. Empreendedores jugaad entendem as restrições severas a que estão inseridos. Isso é um convite à inovação e à geração de valor. A capacidade de reformular a adversidade como fonte de inovação e crescimento é vital para a sobrevivência e prosperidade nestes tempos complexos.
2) Faça mais com menos. Inovadores jugaad são altamente engenhosos diante da escassez. Levantar capital é a menor das preocupações. Para eles, trabalha-se com que o há em mãos – e isso contrasta com a abordagem de P&D, que diz “quanto maior, melhor”.
3) Seja flexível. A jugaad é a antítese de abordagens estruturadas como o Seis Sigma. A mentalidade flexível dos empreendedores jugaad questiona constantemente o padrão, mantém todas as opções em aberto e transforma os produtos, serviços e modelos de negócios existentes.
4) Simplifique. A jugaad não diz respeito à sofisticação ou à perfeição por meio de produtos cuidadosamente projetados ou concebidos. Ela foca mais no desenvolvimento de uma solução boa o suficiente que resolva o problema. A simplicidade criativa é o princípio fundamental da jugaad.
5) Dê chance aos excluídos. As organizações do Ocidente normalmente competem para atender aos clientes mais tradicionais; os empreendedores jugaad buscam os excluídos, não atendidos, e procuram trazê-los para o mercado consumidor. Seus modelos de negócios estão mais voltados para a inclusão social de comunidades não tradicionais e de baixa renda, criadores ativos de valor em conjunto.
6) Siga seu coração. Os inovadores jugaad não dependem de grupos de discussão ou de pesquisa de mercado para decidir o que produzir; tampouco se preocupam com investidores. Eles conhecem intimamente clientes e produtos e, em última instância, confiam e seguem seus corações. Usam a intuição, empatia e paixão para isso, qualidades cada vez mais importantes, tanto quanto o pensamento analítico, para se guiar em um ambiente global cada vez mais diversificado, interconectado e imprevisível.
Na medida em que empresas e pessoas se esforçam por crescimento contínuo, é vantajoso adotar e praticar os seis princípios da jugaad. No entanto, é importante observar que a jugaad não é relevante para todas as situações e contextos e, principalmente, não deve substituir as abordagens estruturadas já existentes, mas complementá-las.
Esse texto se baseou no livro A INOVAÇÃO DO IMPROVISO: POR QUE MENOS É MAIS NA CONSTRUÇÃO DE RIQUEZAS E RESULTADOS, dos autores Navi Radjou, Jaideep Prabhu e Simone Ahuja.
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