Estas breves linhas falam sobre as universidades do futuro. E antes de entrar nesta temática, expomos um princípio fundamental do desenvolvimento organizacional: para que todas as instituições do futuro naveguem com êxito em um mundo em mudança, devem ser continuamente conscientes e sensíveis a essas mudanças. Dito isto, as universidades do futuro precisam se comportar da mesma forma para preparar seus formandos para este mundo mutante.
No entanto, a tarefa de começar a antever como seria esta universidade do futuro requer que façamos observações: todo o discurso da área educacional sobre como definir padrões de excelência, estabelecimento de currículos globalizados e criação de organizações que triunfem na economia do conhecimento infelizmente é mais retórica do que realidade. Vozes progressistas estão escondidas nos escombros da estrutura, dos sistemas, das práticas e políticas institucionais que insistem em viver em um passado quase medieval. Ironicamente, apesar de a educação formal ter sido concebida para facilitar o progresso da liderança mundial, a educação tem sido, em boa parte, conservadora e se agarra a teorias e procedimentos vetustos.
Essa anacronia discursiva entre o que é ainda procedimental nas universidades e o que é cobrado pela nova dinâmica da aquisição cognitiva é perceptível, uma vez que observamos a seguinte rotina: os alunos são aprovados para cursar uma faculdade, entram em salas para assistir a aulas ministradas por profissionais em vários níveis de prática profissional e seguem planos de estudos estanques. Após formados, e dependendo de suas qualificações, os alunos são direcionados para o mercado de trabalho (alguns) ou enveredam pela vida acadêmica, tornando-se pesquisadores. O que fica patente: em âmbito acadêmico, alunos e docentes tendem a ser direcionados a trabalhar sozinhos (ou com aqueles que pensam exatamente como eles), em áreas claramente definidas e separadas do mundo externo.
Para mudar, portanto, esse modus operandi, é preciso que as universidades adotem uma compreensão, estímulo e execução de pesquisa, ensino e serviço que transcendam as disciplinas em relação à construção e implementação. É preciso aceitar o fato de que, nesse mundo tão múltiplo, não existe uma única perspectiva ou corpo de conhecimento que determine práticas e políticas; em vez disso, são necessários modelos multifacetados de criação de conhecimento e engajamento.
A multidisciplinaridade exige maior contato e conexão – uma reunião de estudiosos de várias escolas de pensamento e prática que, juntos, derrubam as barreiras que insistem em separar pessoas. Isso pressupõe falar a linguagem de todos que habitam o seio acadêmico, e quando se faz isso o campo de visão é ampliado – saímos do espectro “minha visão, minhas crenças” para um estado de profunda compaixão, abertura e conexão.
Diante desse cenário, o objetivo mais valioso das universidades do futuro, e os professores aqui também se inserem, deve ser o reconhecimento, a valorização, o provimento e a preparação discente para serem aprendizes saudáveis, continuamente engajados e cidadãos que contribuam ativamente para a sociedade. Seres múltiplos.
Bons questionamentos, Juliana. Gratidão por seu comentário.