Neste texto, tomamos como suporte o livro O FUTURO DA ADMINISTRAÇÃO, do consultor de negócios e Professor da London Business School Gary Hamel. No citado livro, o autor apresenta um apelo entusiasmado por reinventar a administração e estabelece um plano prático para a construção de organizações que estão “aptas para o futuro”.

Hamel explica que a maioria dos gestores, embora ateste o valor da iniciativa, da criatividade e da inovação, enfrenta um dilema preocupante. Eles são, por treinamento e por temperança, gerentes, ou seja, são pagos para supervisionar, controlar e administrar. Porém, hoje as aptidões humanas mais valiosas são precisamente aquelas menos controláveis. Por mais que as ferramentas de gestão possam obrigar as pessoas a ser obedientes e diligentes, não podem torná-las criativas e empenhadas.

Quem quer que já tenha dirigido uma organização, seja esta qual for, alerta Hamel, saberá que extrair o máximo das raramente significa controlá-las mais; normalmente, significa menos controle, menos ordens, menos preocupação com cooperação e menos tempo gasto checando o pessoal. Controlar menos significa mais que ter menos gerentes. As novas e poderosas ferramentas de comunicação permitem às organizações encolher o escalão hierárquico da gerência de nível médio – o que não significa que os funcionários sejam menos reprimidos do que eram no passado; significa apenas que é mais fácil para os gerentes controlarem mais pessoas.

Nas palavras do autor, pedir a um gerente que gerencie menos é como pedir a um carpinteiro que bata menos pregos, ou fazer com que um técnico peça à equipe que perca uma partida. O contrário dessas ações é o que as pessoas fazem. Mas supervisão, planos rígidos, avaliações abrangentes, políticas severas, procedimentos obrigatórios são o contrário de se construir organizações plenas de entusiastas dinâmicos, ligeiramente rebeldes. Sendo assim, nas palavras de Hamel, se os gestores quiserem contribuições ilimitadas de seus funcionários, será preciso atar a mão da gestão.

Fato é que nos últimos anos houve muito discurso sobre engajamento, empoderamento e autogestão. Em muitas organizações, os funcionários agora são chamados de “parceiros” ou “membros da equipe”, numa tentativa de disfarçar sua falta de poder. Será que de fato as liberdades e prerrogativas dos funcionários mais operacionais nas instituições aumentaram nos últimos anos, mesmo com um discurso pró-inovação e procriatividade? Será que eles têm mais liberdade para planejar seus trabalhos, para escolher no que trabalhar ou decidir como executar suas responsabilidades? De certo modo, é um jogo de soma zero: quanto mais invasiva for a supervisão gerencial, e mais apertadas as algemas das políticas e processos, menos apaixonadas as pessoas serão com seu trabalho. Não se pode esperar que robôs sejam entusiastas.

Um abraço a todos.

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