Nunca na história deste país se viu e ouviu tanto a palavra empreendedorismo, principalmente em momentos de crise econômica.
Paráfrases à parte, de fato, o termo em tela é pronunciado no mais alto brado, e isso é observado pelo relato constante da mídia, tão repleta de cases de empreendedores de sucesso; ou pela mudança fundamental do contrato de trabalho, isto é, não há mais postos de trabalho estáveis; ou ainda pela mudança comportamental dos jovens, que preferem um ambiente laboral sem amarras, além de preferirem escolher onde se quer trabalhar. Estas evidências mostram que cada vez mais pessoas estão buscando ou levando em consideração o papel de empreendedor, ratificando, portanto, a posição de Baron & Shane (2007), os quais afirmam que os empreendedores sempre existiram e atraíram atenção em seus contextos sociais.
No atual mundo globalizado, e cada vez mais tecnológico, a eficácia e a produtividade são constantemente enfatizadas. Isto posto, para o empreendedor, seu negócio deve apresentar resultados expressivos no médio e longo prazos, uma vez que os recursos humanos são o maior bem de uma sociedade e eles precisam ser mobilizados e direcionados a projetos empreendedores (CAVALCANTI, 2001).
Entretanto, no contexto da economia global, elencar quais seriam as competências necessárias para se colocar em prática tais projetos empreendedores não é tarefa simples. Isto porque, sob a égide da sociedade pós-capitalista, amparada no conhecimento, o indivíduo terá que estar preparado para um ambiente extremamente competitivo, globalizado e informacional, exigindo dele habilidades e comportamentos necessários para sua sobrevivência num contexto organizacional que demandará do mesmo aprendizado constante.
Por outro lado, baseadas em estudos feitos por Man & Lau (2000), é possível listar algumas competências empreendedoras amparadas em comportamentos oriundos da capacidade pessoal de realizar ações estratégicas com foco na expansão empresarial. Para os autores, há competências associadas a posturas empreendedoras que ajudam no entendimento daquilo que se julga pertinente na interação entre os stakeholders e as organizações. Tais competências, por sua vez, estão atreladas à identificação de oportunidades, à capacidade de relacionamento, a aspectos conceituais, a competências administrativas, a um senso estratégico e à capacidade de comprometimento em favor de interesses individuais e organizacionais, sendo estes atributos os pilares representacionais daquilo que se observa em empreendedores exitosos.
A competência de oportunidade versa sobre a capacidade do empreendedor em identificar, avaliar e buscar oportunidades de mercado. Ele deve ser capaz de identificar cenários favoráveis e agir de acordo as oportunidades avaliadas.
A competência de relacionamento diz respeito à capacidade do empreendedor em passar uma imagem de confiança, boas condutas, comprometimento e capacidade junto à rede de relacionamentos (networking), lançando mão de um saber-fazer relacional (netliving) imprescindível à sobrevivência empresarial.
Por competência conceitual se entende a capacidade do empreendedor em ser um exímio observador do seu negócio, além de ser um hábil observador do ambiente externo. Através dessa competência, o empresário consegue drilblar etapas do processo de decisão, desenvolvendo, assim, ações mais ágeis e intuitivas visando a uma maior blindagem do seu negócio frente a oscilações do mercado, bem como ao maior aguçamento de sua visão empreendedora frente a novos mercados.
A competência administrativa se refere à capacidade do empreendedor em colocar em prática os conceitos básicos das ciências administrativas: planejar, organizar, controlar, dirigir, delegar e motivar sua equipe em favor dos objetivos pretendidos pelas organizações.
Quanto mais os empreendedores são capazes de antever cenários e se posicionar de forma adequada frente a esses matizes mercadológicos, mais eles estão colocando em prática sua competência estratégica. Para Kets De Vries (1997), empreendedores que detêm competências estratégicas desenvolvidas são mais hábeis do que os demais indivíduos na tarefa de gerenciar a complexidade das organizações, pois estão mais aptos a perceber tendências e ajustá-las às demandas das empresas.
Por fim, a competência de comprometimento tem a ver com a capacidade do empreendedor em manter o foco no negócio, mesmo na adversidade. Além disso, essa competência está atrelada à capacidade de trabalho árduo, foco nos objetivos de longo prazo, bem como à responsabilidade no comando da equipe de trabalho e na reafirmação dos valores e crenças pessoais.
Obviamente, os empreendedores não possuem todas essas competências, sobressaindo algumas em detrimento de outras. Por isso, é imperativo que o indíviduo, sabedor de suas potencialidades e limitações, faça um trabalho de autoconhecimento que lhe possibilite alavancar competências pouco desenvolvidas e que são fundamentais para o bom andamento de seus empreendimentos. Esse exercício de autoconhecimento pode ser encontrado no processo de Coaching, metodologia esta que possibilita um mergulho dentro de si, e cujo foco é a mudança comportamental com vistas à obtenção de objetivos de curto e médio prazos.
O Coaching é, portanto, uma ferramenta extremamente prática e objetiva, a qual vem sendo demasiado utilizada em ambientes corporativos como forma de potencializar executivos e gestores em suas funções de gerenciamento. Dito assim, investir nesse processo de autoconhecimento permite a empreendedores alavancar suas aptidões e, consequentemente, incrementar seus negócios.
Referências:
BARON, R. A.; SHANE, S. A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
CAVALCANTI, Marly. Gestão Estratégica de Negócios: Evolução, Cenários, Diagnóstico e Ação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.
Kets De Vries, M. F. R. (1995). Organizational paradoxes: clinical approaches to management (2a ed.). Londres: Routledge.
Man, T. W. Y., & Lau, T. (2000, September). Entrepreneurial competencies of SME owner/manager in the Hong Kong services sector: a qualitative analysis. Journal of Enterprising Culture, 8 (3), 235-254.
MELLO, S.C.B.; LEÃO, A. L. M. S.; PAIVA JUNIOR, F G. Competência Empreendedora de Dirigentes de Empresas Brasileiras de Médio e Grande Porte que atuam em Serviços da Nova Economia. Revista de administração contemporânea, v. 10, n. 4, p. 47-69, 2006.